O Boitatá

Crônicas e observações sobre o cotidiano.

1.6.04

Inauguração

No sítio de um amigo, em São Francisco Xavier, lado paulista da Serra da Mantiqueira, são avistados, várias vezes na noite, clarões no céu, como flash de máquina fotográfica. Tal fenômeno poderia ser confundido com raios, se, curiosamente, não fossem vistos somente em noites estreladas.

Após anos duvidando da versão oficial(fenômenos geológicos), associei uma informação recebida inocentemente à luminescência percebida no céu das terras dos Hardt.

Sendo uma região de mata atlântica ainda preservada, com animais nativos quase extintos, como o Mono Carvoeiro ou o Tiê Sangue, conclui-se a possibilidade de haver também remanescentes de seres extraordinários.

Me recompondo do ódio de engolirmos sem reclamarmos tipos como pés grandes, vampiros, múmias mortivivas, até horripilantes mãozinhas sem corpos, esclarecendo para minha consciência que advertimos as criancinhas do fato de serem somente entidades televisivas, que existem somente na imaginação secular, resolvi fomentar a quase apagada brasileiridade dos fenômenos extraordinários que habitam os restos de nossa tão amada natureza.

É o Boitatá! Ultimamente este ser extraordinário em extinção tem tido muito trabalho. Víbora alimentada com os olhos de muitos índios e animais, lança clarões onde trabalhadores rurais ateiam fogo, defendendo, assim, as matas habitadas pelos espíritos de suas vítimas. Quem avista boitatá ou fica cego ou enlouquece com a visão dos milhares de olhos enfurecidos, pode até chegar a morrer de susto. A sutileza, ou discrição ou palidez das luzes no céu noturno é explicada por três fatores: a distância do real foco de incêndio defendido, a escassez de índios e animais (que dão poder ao Boitatá) e o processo de extinção avançado que sofre este ser, pois, além da destruição da mata, a falta de credibilidade, posto que, quando há um avistamento, logo se associa a outra entidade televisiva, o OVNI, o brilho dos olhos dos índios e dos animais é descrito aos turistas maconheiros como centenas de luzinhas brilhando na "fuselagem" do disco... E assim morre mais um Boitatá. Alguns loucos podem jurar que viram um disco, são as últimas vítimas do pobre ser extraordinário.

Minha nova tristeza: no dicionário que usei para corrigir este post, na parte onde estava: "pés grandes, vampiros, múmias mortivivas, até horripilantes mãozinhas sem corpos", não tinha nenhum risco vermelho, qual minha surpresa? descobri que a única palavra desconhecida era o pobre Boitatá.