O Boitatá

Crônicas e observações sobre o cotidiano.

1.4.05

Ohos na Pele - Final

Se você não leu a primeira parte, está a dois posts abaixo, leia antes.

Parou um instante. Sua cabeça agora trabalhava com estratégias, se a moça demonstrasse incômodo cessaria imediatamente, não era nenhum maníaco ou desequilibrado o bastante para não imaginar os riscos de seu assédio. Perdida a batalha, a razão se calou. A passividade indicaria espaço para outras manobras. O frio se transformara em calor, a respiração ofegante sinalizava o jorro de adrenalina que embriagava os movimentos e lançava o coração ao galope.

Aconteceu o inesperado. O braço da moça desceu lentamente até a encostar em Paulo. O que parecia ser o indicador agora tocava o velho jeans, era um delicado e sutil sinal. Por um longo instante aquilo bastava. Confuso, recuou. O que era aquilo? Do nada uma silhueta de moça aparece e o deixa tão excitado que... Parou de pensar. Aproximou seus dedos do pulso da moça, quando chegou, sentiu as costas de suas unhas no braço dela que, com uma respiração rápida, demonstrou sentir o primeiro contato direto.

Com um movimento no indicador, Paulo acariciou sem medo a pele macia que a distante e parca luz da neblina insistia em esconder. Trocou o braço pela perna. Calmamente, desprezando a existência de vida ao redor, seguindo inutilmente seus movimentos com os olhos, passeou pelos contornos das coxas da moça, sentindo a textura criada pelo arrepio e fantasiando o perfume que a impossibilidade física de seus movimentos corporais certamente escondia.

Território cedido, território perdido. As coxas precediam desejos maiores. Lentamente, foi arrastando a saia até achar o que procurava. Sentiu o pano úmido entre as pernas. Recuou.

Levou a mão à cabeça e coçou, como se estivesse explicando com a coceira sua estratégica retirada. Desceu o braço nas costas dela. A moça afastou-se do encosto do banco. Paulo arrastou a palma de sua mão pelas costas até em baixo, sentindo a comportada calcinha escondida pelo vestido. Dirigiu-se ao lado esquerdo da moça, onde a cintura estreita e a continuidade da curva formada pelo quadril desenhava um corpo lindo em sua mente. Apertou os olhos, como se tal movimento os transportassem para as pontas de seus dedos. Subiu sua mão por debaixo do braço até o indicador sentir o volume do seio.

O ônibus foi parando e Paulo tratou de se recompor na cadeira. Em um lugar sem iluminação nenhuma, o motorista balbucia alguma coisa, a moça se levanta e segue seus companheiros até a porta, para, olha para trás e Paulo consegue reconhecer um ligeiro sorriso no clarão formado pela neblina.

O sono volta. Já na rodoviária, diz aos amigos: “Foi um ótimo fim-de-semana.