O Boitatá

Crônicas e observações sobre o cotidiano.

23.2.05

Cadê o cerrado?

Algumas vezes, nos últimos anos, tive a oportunidade de dirigir longas horas durante o dia nas estradas que cortam o cerrado de Minas e Goiás. A soja é linda. Imensos campos verdes emoldurados pelo cinza do asfalto por centenas de quilômetros nos embriagam de notícias boas: a agroindústria fazendo nosso país crescer, milhares de empregos gerados, nos tornamos o seleiro do mundo e tantas outras boas novas visíveis naquela imensidão verde. Mas, cadê o cerrado?

Do alto de um morro, vejo a estrada cortar um pequeno vale onde, outrora, nos meses de setembro, as árvores tortas e o mato grosso, salpicado de florzinhas brancas, deviam cheirar maravilhosamente, agradecendo as primeiras chuvas depois de meses de seca, exalando a vida escondida nas cascas grossas e na terra vermelha.

Na beira do asfalto, no fundo do pequeno vale, alguma coisa incomoda meu olhar. O inerte monte de pelos se aproxima, as, agora inconfundíveis, listras pretas na pelagem cinza, grossa e comprida parecem fora do seu lugar. Um cheiro forte no ar dispara o estrondoso grito daquele pobre tamanduá: cadê o cerrado?