O Boitatá

Crônicas e observações sobre o cotidiano.

3.6.04

Moleque homônimo

Vocês já se perguntaram por que o personagem infantil das nossas piadas se chama Joãozinho? Eu já. Logo o meu nome?!?! Bem que podia ser Zequinha, ou Tião, ou talvez um nome indígena como Ari ou Perí, daria até um tom genuinamente tupiniquim, incentivando um bom ufanismo nas pessoas. Mas não, tinha que ser meu nome, o qual gosto tanto. O problema é a imagem do Joãozinho: rebelde, impulsivo, no limite entre sacanagem e inocência, logo eu que, até os nove ou dez anos, defendia com eloquência a tese na qual a troca de fluidos orais desencadeava um processo que culminava no nascimento dos bebes, e só alguns anos depois parava de ajoelhar do lado da cama para rezar. Então eu fui tentar imaginar a cara do Joãozinho, como era este homônimo que estava me incomodando. Para minha surpresa foi meu rosto que vi, estava tudo respondido, na verdade Joãozinho é o amalgama da criança que eu quis ser, até me arrisco em dizer que todos nós queremos ter um pouco de Joãozinho, com uma resposta na ponta da língua cada vez que esbarramos em alguém, e o limite entre a sacanagem e a inocência me pareceu o lado legal de se descobrir criança depois que a infância fica no passado.