O Boitatá

Crônicas e observações sobre o cotidiano.

17.4.05

Todo dia era dia de índio

"É mais fácil desintegrar um átomo que um preconceito." Albert Einstein.


Vivemos em tempos interessantes. Escondido em uma grossa camada de hipocrisia, o preconceito anda permeando tudo, todos os ambientes, todas as rodas de conversa, até mesmo as discussões promovidas pela ONU sobre o rumo que a humanidade deve tomar.

Citar exemplos, como o do jogador argentino, poderia diminuir um ou outro, e fazer esquecer que todos, sem exceção, são a mesma coisa, preconceito, no dicionário: "conceito formado antecipadamente e sem fundamento sério; erro; prejuízo" (Dicionário Universal). Ele se baseia na visão unilateral do agente, se mantém pela capacidade de auto-alimentação, cresce com a conivência de outras pessoas e alimenta o ódio infundado e a violência. Qualquer um é o mesmo.

Antes de expor minhas idéias sobre o tema que proponho, coloco aqui um Link para a famosa carta do Chefe Seattle ao então presidente estadunidense. Clique aqui!

Você já parou para pensar se você alimenta algum tipo de preconceito pelos índios? Você os considera limitados, inocentes, sobreviventes do período neolítico? Você é capaz de acreditar que nesta terra possa existir algum índio, um único que seja, que é mais inteligente ou capaz que você?

Não pretendo tecer uma mera bravata sobre a causa indígena, fazer você refletir é muito mais importante.

Na semana que chega, as escolas estarão cheias de crianças com penas na cabeça, lembraremos do falecido Gaudino (morto em Brasília por jovens de classe média-alta), matérias inteiras nos jornais sobre a morte dos bebês indígenas no Mato Grosso e exaustivamente se falará da Reserva Raposa Serra do Sol e da ação das ONGs na região, provavelmente reclamando do governo e, na semana seguinte, o tema se esgotará. As notícias sobre os povos indígenas voltarão a ser pequenas notas, colocando eles no seu devido lugar, distantes e sem expressão, à margem do que chamamos de sociedade.

História
Em abril de 1940 aconteceu o I Congresso Indígena da América Latina, no México. Convidados a participar, os índios não apareceram. Acostumados a traições e perseguições, acreditaram que seria mais uma armadilha. No dia 19 de abril, depois de muitas negociações diplomáticas, reticentes, eles foram. Desde então, nesta data se comemora o dia do índio.

A luta pelos direitos dos povos silvícolas no Brasil começou com o Marechal Rondon em 1910, que, por ter sangue indígena, iniciou uma séria mobilização social com o Serviço de Proteção ao Índio (SPI), para variar, foi extinto após sua morte devido a inúmeras denúncias de corrupção. Para "moralizar" foi criada a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) que, governo após governo, manteve a questão indígena distante de nossos olhos.

Para quem quer conversar com eles
Deixo aqui o link do Índios On Line, que é um chat para se conversar com tribos indígenas, eles estão com problemas financeiros para manutenção, apesar de já terem ganhado prêmios pela iniciativa. Dê uma passada por lá! Clique aqui!

Vale a pena conhecer
Procure em locadoras especializadas o curta "O Relógio ea Bomba", que trata da reação dos povos indígenas à festa dos 500 anos do descobrimento, em Porto Seguro, e a repressão sofrida por eles por parte do governo federal, organizador da festa. Há uma cena famosa: o ex-presidente Fernando Henrique para seu discurso e canta, junto com os manifestantes que estão do lado de fora, o hino nacional. O pior (ou melhor) é que ele erra a letra. Indispensável!

O fim do preconceito começa com o coração aberto ao que é diferente, só assim o respeito toma seu devido lugar e acabamos descobrindo o quanto somos iguais.