O Boitatá

Crônicas e observações sobre o cotidiano.

27.2.05

Potira, minha saci fêmea

A Potira, minha saci fêmea, faleceu semana passada, o Caetano, tratador, me ligou para dar a notícia. Não é um assunto que falo muito, pois este é um dos requisitos para quem quer apadrinhar sacis, rompo meu silêncio pelos óbvios motivos de indignação e tristeza.

A Potira era do tipo mantiqueira, raça de porte menor e grande robustez, ela me foi confiada, junto com o Peri (o macho) a uns oito anos por um criador de Caçapava que conheci em uma viajem. Por ser um animal que necessita de um trato delicado e que morre, se retirado da mata ou em contato direto com o sol, apadrinhar é a forma certa de cuidar deste ser fantástico, que foi tratado como mito por tanto tempo.

Alguns criadores do oeste paulista criam em viveiros, até se adaptarem, depois soltam em glebas de mata nativa, os meus foram soltos assim que chegaram, pois, tinha um ótimo bambusal na propriedade e eles ainda eram filhotes, em fase de desmame. Os biólogos da USP estão com um projeto de corredores verdes que ajudou muito no repovoamento. Há uma torcida para que os números de indivíduos volte ao aceitável, como o mono-carvoeiro, que já possui um estudo de preservação bem avançado, apesar de ainda estar em processo de extinção.

Este arisco e sensível primata tem que ser preservado, sua semelhança com o homem e sua inteligência são únicas. A Potira nos encantou como quatro lindos filhotes, Caetano vai levar Peri de volta a Caçapava para evitar a consangüinidade pois outros sacis mantiqueira já foram vistos na região e eu me sinto orgulhoso por ter ajudado neste processo. Hoje, vivendo em região de cerrado, sinto que será difícil ver sacis novamente, espero que meus netos possam ter este prazer. Saudades.

Associação Nacional dos Criadores de Saci – Clique aqui

23.2.05

Cadê o cerrado?

Algumas vezes, nos últimos anos, tive a oportunidade de dirigir longas horas durante o dia nas estradas que cortam o cerrado de Minas e Goiás. A soja é linda. Imensos campos verdes emoldurados pelo cinza do asfalto por centenas de quilômetros nos embriagam de notícias boas: a agroindústria fazendo nosso país crescer, milhares de empregos gerados, nos tornamos o seleiro do mundo e tantas outras boas novas visíveis naquela imensidão verde. Mas, cadê o cerrado?

Do alto de um morro, vejo a estrada cortar um pequeno vale onde, outrora, nos meses de setembro, as árvores tortas e o mato grosso, salpicado de florzinhas brancas, deviam cheirar maravilhosamente, agradecendo as primeiras chuvas depois de meses de seca, exalando a vida escondida nas cascas grossas e na terra vermelha.

Na beira do asfalto, no fundo do pequeno vale, alguma coisa incomoda meu olhar. O inerte monte de pelos se aproxima, as, agora inconfundíveis, listras pretas na pelagem cinza, grossa e comprida parecem fora do seu lugar. Um cheiro forte no ar dispara o estrondoso grito daquele pobre tamanduá: cadê o cerrado?

18.2.05

Caros Amigos

Alguns amigos estão querendo conhecer meu blog e ler meus textos.
Sejam bem vindos! Meus textos são todos os que estão abaixo dos dois últimos. Estive em uma fase difícil que está acabando, tentarei, aos poucos, voltar a escrever e alimentarei O Boitatá também com histórias de outros que, assim espero, me mandarão.
Você não perde por esperar!